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A IMPORTÂNCIA DO QUE PENSAMOS

Nossos pensamentos, mesmo quando não manifestados verbalmente, são tão importantes quanto nossas ações, e têm função central em nosso crescimento espiritual

Por: André Sant’Ana

Quando foram pronunciadas há mais de 2.000 anos, as palavras do Amigo Celeste devem ter causado estranheza aos participantes do inolvidável Sermão da Montanha. Na época, Jesus tinha acabado de trazer as bem-aventuranças e estava complementando os ensinamentos dos Dez Mandamentos. Até então, o conceito de adultério era somente relacionado ao fato em si, mas Jesus esclarece que também aquele que pense em adulterar estará assumindo graves responsabilidades com a sua consciência em relação ao fato.

Mas como isso é possível? Se eu não adulterei, de fato, não estarei isento do erro? Acredito que esta deve ter sido a pergunta que a maioria deve ter se feito quando Ele falou; mas mesmo sem compreender o sentido daqueles ensinamentos, todos confiaram no Divino Amigo.

Somente nesses últimos séculos é que pudemos esclarecer essa afirmativa tão transcendental; foi preciso esperar mais de 1.800 anos para entendermos esse e outros ensinamentos de Jesus. Precisamente em 18 de abril de 1857, Allan Kardec trouxe os ensinamentos e esclarecimentos dos Espíritos Superiores sobre as mais diversas questões daqui e do mundo espiritual.

Ele organizou esses ensinamentos em cinco livros, que são conhecidos como as obras básicas da Doutrina Espírita: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. E é particularmente nesse último que iremos começara desvelar, e confirmar, a afirmação do Mestre. Num sub-item do capítulo XIV que fala sobre a ação dos espíritos sobre os fluidos, criações fluídicas, fotografias do pensamento, Allan Kardec explica sobre os fluidos e os pensamentos, referindo-se à existência e à força das energias mentais que produzimos.


O espírito pensa, isso se reflete no corpo mental, que produz uma vibração no corpo espiritual, que, por sua vez, reflete essa vibração no corpo físico


Alguns anos depois, outras doutrinas, como a Teosofia, também trouxeram informações sobre as energias mentais, merecendo destaque a obra de Charles W. Leadbeater, bispo anglicano, clarividente, que conseguia ver as energias mentais. Ele deixou suas experiências relatadas em vários livros, sendo o mais notável, a meu ver, o Formas de Pensamento (com Annie Besant, Ed. Pensamento), que traz várias ilustrações e explicações sobre o assunto.

No espiritismo, Ernesto Bozzano escreveu um livro voltado a vários aspectos da questão, o clássico Pensamento e Vontade (Ed. EEB). E, depois dele, não foram poucos os autores do mundo espiritual que trouxeram mais informações sobre o assunto: André Luiz, Emmanuel, Joanna de Angelis, Manoel Philomeno de Miranda, Charles, apenas para citar alguns que se utilizaram de Chico Xavier, Divaldo Franco e Yvonne Amaral.

E toda essa gama de informações nos permite, hoje, entender com muita clareza e profundidade a afirmação de Jesus. O Mestre quis demonstrar que somos responsáveis não só pelo que fazemos, mas também pelo que falamos e pensamos. E sendo o pensamento a “raiz” do que iremos falar, ou fazer, isso o coloca em altíssimo grau de importância, pois somos o que pensamos. Mas só essa explicação não esclarece o porquê do pensamento ter tanta importância em nossas vidas. Para isso, precisamos aprofundar ainda mais o nosso raciocínio.

Antes, é preciso saber que quem pensa não é a mente, mas o espírito. O mecanismo funciona mais ou menos assim: o espírito pensa, isso se reflete no corpo mental, que produz uma vibração no corpo espiritual, que, por sua vez, reflete essa vibração no corpo físico. E esse instante de pensar, para o espírito, tem como conseqüência a produção de duas energias mentais: as ondas mentais e as formas-pensamento.

Corpo mental e corpo espiritual fazem parte do já conhecido perispírito, que é o envoltório do espírito definido por Allan Kardec, e que mais tarde André Luiz dividiu em várias camadas, sendo esses corpos duas delas.

As ondas mentais são energias emitidas pela mente e que podem ser analisadas de acordo com o teor da sua freqüência vibratória. São elas que possibilitam estabelecer a sintonia com outras mentes encarnadas ou desencarnadas. Quanto maior a direção no Bem, maior será a freqüência da nossa onda mental. Assim sendo, eleva a freqüência vibratória tudo aquilo que reflete a essência de uma virtude: a bondade, o perdão, a tolerância, a compreensão, a caridade, a solidariedade, a benevolência, uma leitura edificante, uma oração...

Já nas formas-pensamento, temos, como Allan Kardec definiu na Gênese, a fotografia do que estamos pensando, mas não pense numa foto como as que estamos acostumados. Quis ele se referir que a mente exterioriza algo fluídico, que reflete exatamente o que nós estamos pensando naquele instante.

Ambas, ondas e formas, são produzidas ininterruptamente, já que é impossível ficar sem pensar. São forças concretas, ainda que invisíveis para os nossos sentidos. E, particularmente no caso das formas-pensamento, existe ainda a possibilidade de uma vida artificial.

Isso é possível porque a nossa mente manipula várias energias para produzir o pensamento e dentre elas, figura a energia vital que, de acordo com a quantidade, possibilitará à forma-pensamento que for criada uma espécie de “bateria”.

Cada forma-pensamento gerado possui varias características e propriedades distintas, de acordo com a concentração, a vontade e a moral da pessoa que a criou. Pela vontade, teremos a quantidade de energia mental da forma-pensamento e, pela moral, teremos a qualidade, boa ou ruim, dessa criação.


Se nos colocamos a produzir pensamentos que ninguém conhecerá sobre a mulher ou o homem do próximo, estaremos projetando formas-pensamento negativas à pessoa alvo, que até poderão causar-lhe algum malefício


Das características das formas-pensamento, uma é muito importante e vai nos auxiliar na compreensão do ensinamento que Jesus nos trouxe: a essência. Ela vai determinar o tipo de influência que a forma-pensamento irá exercer sobre as pessoas. Por exemplo, se pensamos em alguém que esteja doente, com a determinação de ajudá-la ou com o desejo de que essa pessoa melhore, geraremos uma forma-pensamento que irá até a pessoa e que, ao entrar em contato com ela, influenciará na sua recuperação, podendo até mesmo auxiliar na sua cura. Desse modo, teremos contribuído para o bem-estar da pessoa, semeando o Bem ao nosso próximo.

Só que o mesmo mecanismo acontece com nossas irradiações negativas. Assim, se nos colocamos a produzir pensamentos que ninguém conhecerá sobre a mulher ou o homem do próximo, estaremos projetando formas-pensamento negativas à pessoa alvo, que até poderão causar-lhe algum malefício. Mas independentemente disso, nós já teremos certa quota de responsabilidade e negatividade perante as Leis Divinas, por causa da semeadura infeliz.

Além disso, essas formas-pensamento, se geradas com uma boa dose de concentração, ficam vivas e atuantes em nosso meio, como vimos. Elas têm uma certa durabilidade, de acordo com a potência do pensamento produzido, podendo então influenciar não só a pessoa alvo, mas a qualquer outra pessoa que se permita entrar em contato com a mesma.

Então, nos dias atuais, é fácil entendermos a afirmação de Jesus. Um pensamento de adultério se irradiará na direção da pessoa que se deseja, influenciando-a com essa energia negativa, perturbando-a com a idéia de traição, de sedução, com essa situação negativa podendo perdurar dias e noites. Perante as Leis Divinas, essa pessoa que projetou o pensamento é responsável por todo mal que for feito por ele.

Grande é a responsabilidade que temos com os nossos pensamentos. Ao analisarmos a profundidade do ensinamento de Jesus, percebemos como é de alta relevância compreendermos o funcionamento dessas energias mentais para conseguirmos, realmente, a nossa tão desejada transformação moral.


Fonte: Revista Espiritismo & Ciência (edição 20)

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