Os vícios fazem parte da vida das pessoas, em maior ou menor escala.
Por: Octávio C. Serrano
Vício é tudo aquilo que causa algum tipo de dependência. Segundo o dicionário do Aurélio, entre muitas outras definições, é qualquer “costume prejudicial”.
Quando se fala em vício, porém, entendemos de pronto os mais habitualmente nocivos, física e psicologicamente, como o alcoolismo, o tabagismo e o uso de drogas em geral.
Indubitavelmente, essas práticas levam o usuário a uma dependência difícil de ser superada, faz mal ao físico e ao bolso, além de denegrir a pessoa diante da sociedade. Além disso, alguns deles levam à privação dos sentidos normais, transformando a criatura num ser violento, irracional, que pode cometer crimes que não faria em estado normal. Geralmente, nos momentos de sobriedade vêm a angústia e o arrependimento. Infelizmente, tardios!
Dissemos no título deste comentário que somos todos dependentes porque há no mundo moderno uma série de valores que obrigam as pessoas a viver artificialidades escravizadoras. Vale para mulheres e homens, crianças e adultos. Por exemplo:
O culto ao corpo, que era preocupação das mulheres, hoje atinge também os homens que passaram a freqüentar institutos de beleza. Usam cabelos estrambóticos, com cortes, penteados e coloridos inimagináveis.
As mulheres passam fome para manter corpos de modelo, adoecendo-se e esquecendo-se do crescimento espiritual. Gastam por mês nas cabeleireiras o que a maioria do povo brasileiro ganha para sustentar uma família.
Se de um lado a TV serve como divertimento de outro lado destrói a família e os relacionamentos entre as pessoas
Quando as dietas não resolvem, em nome da elegância tiram ou colocam por meio de cirurgias partes do corpo. Ao chegar à velhice, ficam parecendo monstros.
Outra prática ridícula são as tatuagens que cobrem grande parte do corpo, os piercings, brincos no nariz, na orelha, no umbigo, nas pálpebras e em outras partes mais impróprias e delicadas, num gesto que, segundo os espíritos, é uma auto-agressão ao organismo carnal pelo qual deveríamos ter grande zelo. Preservá-lo, em vez de agredi-lo.
Não vemos diferenças entre esses jovens e os selvagens que enfiam paus no nariz, na orelha ou no pescoço, para identificar-se diante da tribo. São selvagens de calça e jaqueta, nada diferentes dos que se cobrem simplesmente com penas e cocares.
Somos convencidos pela mídia que nos impinge espetáculos ridículos, com filmes de violência, imoralidade, falta de caráter, mas que o povo gosta de assistir. Quando mais violentas e maldosas as tramas, maior é a audiência.
Este é outro tipo de dependência. Se alguém nos visita na hora da novela, ou nos incomoda ou pede para que não desliguemos o aparelho porque ela também não passa sem o tal divertimento. As amizades são estéreis, formais e não dão tempo para a conversa sadia e edificante. Se de um lado a TV serve como divertimento de outro lado destrói a família e os relacionamentos entre as pessoas. Fazem a nossa cabeça e nem percebemos que somos marionetes manipuladas pelos poderes econômicos. A guerra pela audiência admite tudo. Se der um ponto a mais, qualquer mediocridade vale a pena!
Somos dependentes da TV, do computador, do celular (esse incômodo rastreador que não respeita a privacidade de ninguém) e nos falta tempo para a leitura e o lazer saudáveis. Somos escravos do status que determina como devemos morar, andar, vestir, comer e conduzir-nos durante esta encarnação.
Lamentavelmente, chegaremos de mãos vazias na espiritualidade, precisando urgente de tratamento por meio de reencarnação reparadora. Quem sabe, nasceremos feios para que a beleza não nos desequilibre; com lesões de diferentes ordens, para não poder exibir-nos desastradamente e valorizarmos o que é inútil.
Somos escravos do status que determina como devemos morar, andar, vestir, comer e conduzir-nos durante esta encarnação
No livro “Vida antes da vida” a psicóloga americana Helen Wambach diz que em suas pesquisas observou que “em síntese, as razões para as pessoas escolherem esta vida na Terra não foram, especificamente, com vistas ao desenvolvimento de seus próprios talentos. Ao invés disso, os objetivos consistiam em aprender a se relacionarem com outros e a amarem sem exigências ou desejos possessivos”.
Outro aspecto muito interessante: “Quase todos traziam uma orientação básica para que pudessem cumprir sua programação - fazer ao semelhante o bem que gostariam de receber dele.” A regra áurea de Jesus surge como a suprema orientação do Espírito ao reencarnar. Pena que só percebamos isso quando estamos desencarnados. Voltamos com propósitos sérios e depois passamos cinco horas no instituto de beleza cuidando daquilo que logo será jogado fora. Da alma que é imortal, cuidamos pouco.
É hora de deixar de sermos dependentes das vulgaridades para nos dedicarmos às lições que edifiquem o futuro verdadeiro.
Que Deus nos dê discernimento. E que neste mês, quando se comemora o dia da criança, em vez de mais um celular possamos das a ela um meio de se comunicar com os semelhantes por meio do abraço e da solidariedade.
Na Revista André Luiz, Ano XIV, nº 9-10, de 1983, há o soneto Corpo e Alma, de Olavo Bilac, que diz assim:
Se tens uma alma e se essa alma, criatura,
Que te foi dada como um grande bem,
Quer um dia ascender, ganhar altura,
Ser um astro no além...
Tu tens um corpo e um corpo que procura
Rastear na lama que do instinto advém;
Quando sem dó tragá-la a cova escura
Será lama também.
Nessa finalidade, atende é louco!
Corpo e alma são teus: a lesma e o astro;
Um quer subir e o outro andar de rastro.
Pois o que me surpreende e em que me espanto,
É que do corpo que é nada cuidas tanto
É da alma que é tudo cuidas pouco!
Que te foi dada como um grande bem,
Quer um dia ascender, ganhar altura,
Ser um astro no além...
Tu tens um corpo e um corpo que procura
Rastear na lama que do instinto advém;
Quando sem dó tragá-la a cova escura
Será lama também.
Nessa finalidade, atende é louco!
Corpo e alma são teus: a lesma e o astro;
Um quer subir e o outro andar de rastro.
Pois o que me surpreende e em que me espanto,
É que do corpo que é nada cuidas tanto
É da alma que é tudo cuidas pouco!
Fonte: Revista Internacional de Espiritismo (outubro 2008)