Quais os requisitos de um orientador fraterno?
Como orientar de forma adequada?
Como orientar de forma adequada?
Por: Octávio Caúmo Serrano
Há diferentes expressões usadas pelas Casas Espíritas para designar a entrevista que oferecem aos visitantes que desejam falar de seus problemas ou ter conhecimentos sobre o Espiritismo. Entre elas, estão orientação espiritual e atendimento fraterno. O nome é secundário. O importante é saber que esse tipo de atendimento é fundamental em todo Centro Espírita e deve contar com pessoas qualificadas para o trabalho.
Quais seriam as principais características de um bom entrevistador/orientador? A primeira, e quanto a isto não paira dúvida, é ser conhecedor do Espiritismo, mas que esse conhecimento seja racional e se fundamente nos livros da Codificação, sem dogmas ou fantasias.
Outra condição que auxilia, e muito, é experiência de vida. Quem amadureceu em razão de seus próprios problemas tem mais condição de compreender as dificuldades alheias. A orientação não deve ser apenas teórica, mas que seja exeqüível na prática.
Muitas pessoas terão curiosidade em saber se a mediunidade é também um fator positivo para que a orientação seja dada com segurança, já que devido à vidência ou audiência, poderá conhecer melhor o quadro que envolve o entrevistado.
O Atendimento Fraterno deve contar com pessoas qualificadas para o trabalho
Em nossa opinião, e nos baseamos no convívio de quase quarenta anos nos ambientes espíritas, a mediunidade nesse caso é faca de dois gumes. Se o médium é vidente, corre o risco de ter visões desagradáveis provocadas pelo espírito inferior, no sentido de impedir-lhe o claro raciocínio para a orientação devida. Julgamos mesmo, que esse requisito é dispensável. O conhecimento e bom senso são mais importantes. Dia destes recebemos um jovem que estava irritadiço, o que provocava nele um envolvimento espiritual negativo, ou que estava com um envolvimento espiritual negativo que o deixava irritadiço. Não importa o que começou primeiro, mas que o jovem precisava de socorro era evidente.
Logo que chegou para a entrevista, indagou-nos se “víamos as coisas”. Respondemos que não e ele disse que preferiria conversar com alguém que visse. Percebemos nesse momento a vulnerabilidade a que se expõem as pessoas.
Com sinceridade e clareza, explicamos que era fácil eu lhe dizer que via e ele fatalmente acreditaria, porque é isso o que o leigo quer encontrar no Centro Espírita. Ele se aconselha com o psicólogo sem perguntar se o profissional vê espíritos. Mas no Centro é diferente. Sem contar aqueles que não querem a opinião do entrevistador encarnado, mas sim a do mentor da casa. Nem sabem quem é o mentor e se a casa tem um! Há casas tão desequilibradas que até o mentor já foi embora...
Quantos entrevistadores fazem tipo e se dizem videntes para ganhar o respeito e a atenção das pessoas. E elas saem repetindo, convictas, que estão rodeadas deste ou daquele espírito, porque lhes foi garantido no Centro que elas andam cercadas de más companhias espirituais. Sem conhecer as razões e os mecanismos da interferência espiritual, sente-se vítimas e querem que afastem os espíritos que as incomodam.
O jovem em questão não suportava barulho, conversa alta ou acordar sem que houvesse tumular silêncio em seu quarto. Vivia brigando com a família.
Recomendamos a ele que tomasse uma série de passes, com respeito e assiduidade. A par disso, a leitura do Evangelho Diário, o Evangelho no Lar, o recurso da prece, sempre que tomado pelo mau humor ou pela irritabilidade, a fim de expandir o limite da sua paciência. Paciência, a virtude mais em falta nos nossos dias e a causadora de grandes desgraças, porque a impaciência nos leva ao desequilíbrio e à irracionalidade.
Dissemos a ele que o maior barulho que ele ouvia estava dentro da sua própria cabeça e se ele quisesse poderia desligar-se do barulho exterior. É questão de treinamento. Ouvimos o que queremos ouvir. E quando prestamos atenção fica mais grave porque se forma uma bola de neve que vai se instalando em nossa mente, causando-nos mal-estar.
Jamais iludir o “paciente” prometendo-lhe soluções milagrosas, mas deixar claro que o primeiro médico dele é ele mesmo
Para satisfazer a curiosidade dele quanto aos espíritos, deixamos claro que todos nós estamos permanentemente envolvidos pelos espíritos. E com ele não seria diferente. Que tipo de espírito nos acompanha é uma conseqüência do nosso modo de viver. Se popularmente conhecemos o adágio “dize-me com quem andas e eu te direi quem és”, no âmbito espiritual poderemos dizer “dize-me como vives e te direi quem são os espíritos que te rodeiam”. Ele teria de combater a irritabilidade para mudar suas companhias espirituais desagradáveis.
O Centro Espírita ajuda porque oferece orientações seguras para que o entrevistado aprenda a cuidar de si. Mas isso é o que precisa ficar claro no atendimento fraterno ou orientação espiritual. Jamais iludir o “paciente” prometendo-lhe soluções milagrosas, mas deixar claro que o primeiro médico dele é ele mesmo. O primeiro doutrinador do espírito obsessor que o acompanha é a sua boa conduta, a sua reforma moral, tão pregada e explicada pela doutrina espírita, a mais importante conquista numa reencarnação.
Penso que o jovem saiu satisfeito porque tem vindo tomar seus passes com regularidade. Saberemos no futuro se ele assimilou o que lhe foi dito, se conseguiu melhorar e qual será seu depoimento ao retornar ao atendimento fraterno depois desse primeiro contacto com o nosso Centro.
É bom tempo para saber o que realmente buscamos no Espiritismo. Se nós queremos uma orientação lúcida e segura estamos no lugar correto, quando escolhemos um Centro Espírita que aplica em seus trabalhos os postulados de Kardec. Se nós estamos em busca de milagres, há os que lêem a sorte, os curandeiros e as igrejas especializadas em vender o céu a preço módico. A opção é livre.
Fonte: Revista Internacional de Espiritismo (janeiro 2008)