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AS CRIANÇAS E OS ESPORTES VIOLENTOS

Há dois mil anos, O Mestre Maior ensinou: Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. Por estas máximas, Jesus estabeleceu, como lei, a doçura, a moderação, a mansuetude, a afabilidade e a paciência. E, por conseqüência, condenou a violência, a cólera, e até mesmo toda expressão descortês para com os semelhantes. A violência ensombra as conquistas sociológicas de todos os séculos. Brota em todos os níveis da sociedade, consubstanciando-se em várias amplitudes e espectros de cores carregadas.

A mídia, de uma forma geral, tem noticiado que, na Grã-Bretanha, muitos pais estão impondo aos filhos, muitos dos quais com apenas quatro anos de idade, lutar boxe tailandês. A materialidade dessa aberração está em documentário produzido por canal de televisão britânico, mostrando o circuito das lutas organizadas, em que os inscritos, para esse fim, são crianças com idade a partir de quatro anos (inacreditável!). Nesse proscênio, incentiva-se o Muay Thai (boxe tailandês), tornando, essa prática, cada vez mais popular na Europa, atualmente com centenas de academias estabelecidas.

Milhares de adultos insanos pagam ingressos para assistir crianças, menores de dez anos, lutando em uma espécie de gaiola de ferro. Muitos pais acreditam que essa prática pode incentivar os filhos a cuidar mais de si mesmos quando crescerem, e crêem que seus filhinhos possam conquistar o título de "campeão". Porém, esses pais desnaturados desrespeitam a liberdade dos filhos por não saberem quais são os reais sonhos dessas crianças, projetando nelas as suas frustrações.

Pediatras, psicólogos, professores e estudiosos consideram muito prejudicial, para as crianças e jovens, o incentivo a esportes agressivos, pelo efeito da violência que essas práticas produzem, pois, os golpes violentos fascinam as mentes infantis, principalmente, porque são desempenhados por "heróis" de filmes de ação, vistos em cinemas ou quando televisados.

Muitas crianças e jovens não têm capacidade crítica, não têm noção do perigo a que estão sujeitos aprendendo lutas marciais, muitas vezes desconhecem a índole do seu adversário, no que pese à postura de briga "esportiva", se aceitável, se razoável ou se absolutamente criticável, a eliminar de seus hábitos. O que identificamos, de forma generalizada, é o total distanciamento dos pais modernos, em nível de educação dos filhos nesse sentido. De maneira geral, transferem suas responsabilidades para as escolas ou para o Estado, enquanto eles é que tinham que dizer aos filhos se isso ou aquilo é perigoso para menores, ou não.

Uma legítima educação é aquela em que os poderes espirituais regem a vida social. Todavia, o "homem moderno" e que se diz "civilizado" se envaidece com a sua capacidade de subjugar os outros, de mandar, de impor medo, quando o ideal seria ensinar à sua prole o respeito humano e submissão a Deus. A degradação moral do homem contemporâneo abriu as comportas da violência, represada debilmente pelas barreiras artificiais da civilização. Essa deformação da mente e o aviltamento da consciência desumanizaram o homem, artificializado pela violência no seu método de ação, justificado pelo seu valor pessoal, para o reconhecimento do seu poder, que, imperiosamente, o embriaga e o tem levado a excessos perigosos.

A violência do "homem civilizado" tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. Um pai que expõe seu filho a golpes violentos, correndo o risco de inutilizá-lo para sempre, é bem o homo brutalis, que cria as suas próprias leis: subjugar, humilhar, torturar, matar. O seu valor está sempre acima do valor dos outros. Além disso, mister é recordar que a cumplicidade com a violência, por parte das consciências adultas, retarda a evolução coletiva e rebaixa o cúmplice a posições indignas. Pessoas de mente esclarecida, jamais fomentará idéias desse tipo em uma criança.

Os guantes da brutalidade continuam a fermentar competições hediondas nas novas estruturas sócio-culturais. A prova histórica disso está, hoje, diante de nossos olhos, na eclosão de violências em todos os níveis do mundo contemporâneo, sobretudo contra crianças. Nossa esperança é a de que essa explosão seja a catarse final para que o homem bruto desapareça e possa ceder lugar ao homem de bem.

Estamos numa conjuntura de nova antropofagia, superestimada e requintada pelas técnicas de lutas de arenas, como se fossem esportes de modernas concepções. Hoje, na era cibernética, os instrumentos de opressão, tortura e aniquilamento, de que o homem dispõe, atingem o clímax em face de seu máximo aperfeiçoamento.

Atualmente, educar é uma tarefa intrincada, é problema de solução nada fácil, em face das modificações que a condição infantil vem sofrendo nas últimas décadas. Antigamente, a pureza das crianças era uma realidade mensurável. Sua perspectiva não ultrapassava os simples livros didáticos, um único humilde caderno e brinquedos baratos. Para repreendê-las e educá-las, às vezes, bastava um olhar firme dos pais. Porém, aquele imaginário infantil, de quietude e sonho ingênuo, desmoronou sob o impacto da era da robótica.

Em nosso diagnóstico, concebemos que a televisão e a internet, ao invadirem os lares, potencializaram, nas crianças, o despertar antecipado para uma realidade nua e cruel, o que equivale afirmar que elas foram arrancadas do seu universo de fantasia e conduzidas para a violência, estimuladas, também, pela vaidade dos pais. Destarte, o período de inocência e tranqüilidade infantil foi diminuindo. Cada vez mais cedo, e com maior intensidade, as inquietações da adolescência brotam acrescidas pelos múltiplos e desencontrados apelos das revistas pornográficas, da mídia eletrônica, das drogas, do consumismo descontrolado, do mau gosto comportamental, da vulgaridade exibida, das técnicas de lutas marciais e outras tantas extravagâncias, como reflexos óbvios de pais que vivem alienados, estagnados e desatualizados, enclausurados em seus afazeres diários e que nunca podem permanecer à frente da educação dos próprios filhos.

Seria possível uma viagem através do "túnel do tempo", a uma volta aos padrões comportamentais de 60 anos atrás? Seria desejável - e essa é uma meta a ser atingida a longo prazo - que as crianças só recebessem das pessoas que as cercam e do mundo que as envolve, mensagens boas e construtivas, ao invés de serem bombardeadas, dia e noite, pela violência e pela sensualidade desenfreada. Para que isso aconteça, cabe aos pais, principalmente, a tarefa de modificar essa deseducação constante por que passam na infância.

A regra áurea do amor haverá de prevalecer no mundo regido pela lógica da violência. No conjunto de providências dos Espíritos Elevados, o Espiritismo assumirá seu espaço, definitivamente. Isso equivale afirmar que essa posição suis generis do Espiritismo, permitirá preparar a criança atual para uma existência normal e digna no futuro, desde que os espíritas permaneçam atentos. Jesus prossegue o modelo.

A tarefa que nos cumpre realizar é a da educação das gerações jovens pelo exemplo de total dignificação humana sob as bênçãos de Deus. Nesse sentido, os postulados Espíritas são antídotos para a violência, posto que aqueles que os conhece têm consciência de que não poderão se eximir das suas responsabilidades sociais, sabendo que o futuro é uma decorrência do presente.



Por: Jorge Hessen

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