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O ESPIRITISMO E AS GUERRAS

"As guerras continuam assombrando a humanidade e o espiritismo tem muito a falar sobre o assunto. Aqui, discutimos algumas questões relativas ao tema."


É verdade que os conflitos têm sido uma constante na história da humanidade, e no século 20 eles atingiram uma proporção assustadora, especialmente após o desenvolvimento das armas atômicas e nucleares. Nos anos de 1960, a chamada Guerra Fria (que não foi tão fria assim) atingiu seu auge, com a possibilidade real de destruição de toda a vida no planeta. Segundo alguns especialistas no assunto, chegamos bem perto disso.

Quando se imaginava que o mundo entraria numa nova fase - a partir do fim da União Soviética -, guerras violentíssimas eclodiram em vários pontos do planeta, às vezes com características diferentes, mas sempre causando os mesmos prejuízos para a evolução da humanidade.


A Doutrina Espírita afirma que Deus permite as guerras para propiciar ao homem a oportunidade de uma evolução mais rápida - no sentido de atingir a liberdade e o progresso


O fato de que a guerra continua presente no mundo torna a discussão do tema sob o ponto de vista do Espiritismo uma necessidade, até mesmo para que as pessoas tenham elementos para tentar entender a atual postura belicista dos EUA e das nações e povos do Oriente Médio, independente das motivações mais obvias ligadas à religião e à propriedade da terra.

Sérgio dos Santos Rogrigues - no artigo Guerras: Como o Espiritismo Explica?, publicado no site do CVDEE (Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo) - diz que o Espiritismo, como doutrina filosófica, de bases científicas e consequências morais, se relaciona com tudo que diz respeito ao nosso processo existencial, pois objetiva contribuir para o progresso da humanidade, tornando-a melhor. Ele explica ainda que Allan Kardec tratou do tema na terceira parte de O Livro dos Espíritos, mais especificamente no capítulo referente à Lei de Destruição, em que é dito que a guerra foi classificada pelos Espíritos como um de seus agentes. Os orientadores espirituais afirmaram que é consequência da predominância da natureza animal do homem sobre a espiritual, e do transbordamento de suas paixões. Eles também esclarecem que Deus permite que assim aconteça para propiciar ao homem a oportunidade de uma evolução mais rápida, no sentido a liberdade e o progresso.

Os benfeitores espirituais ensinam que, no estado de barbárie, os povos somente conhecem o direito dos mais fortes, daí vivenciarem um estado de guerra permanente, que se vai modificando à medida que o homem progride.


Assim que uma guerra termina, logo surgem os efeitos da lei de ação e reação que rege o universo


O escritor e médium Eurípedes Kühl também cita as questões de O Livro dos Espíritos (questões 542 a 548, 671, 738, 742 a 744, 747 a 749, 1009), nas quais o tema da guerra é tratado amplamente. "Isso não é difícil de compreender", explica Kühl, "eis que Kardec, francês, conhecendo bem a história do mundo e particulamente do seu país, bem sabia o quanto a França já havia, até aqueles dias, participado de guerras, bem como que provavelmente participaria de outras no futuro, o que realmente aconteceu". Eurípedes explica que "[...] somos Espíritos em árduo processo de crescimento moral, trazendo no íntimo muito do caráter dominador, o qual se impõe sempre pela força, decorrente do instinto animal que ainda sobrevive em nosso subconsciente".

Para o Delegado de Polícia e escritor João Demétrio Loricchio, a guerra insiste em permanecer em nosso planeta, mesmo já caminhando para um mundo de regeneração. Existem vários termos como guerra fria, guerra de nervos, guerra psicológica, mas todos se referem a uma política intimidativa para provocar tensão e desequilíbrio emocional na parte contrária, com exigências territoriais e econômicas.

No texto ...Ouvireis Falar de Guerras (citação de Mateus 24:6), Loricchio explica que todos os espíritos são criados simples e ignorantes de tudo e que, para suas evoluções, Deus outorgou as várias vivências em corpos materiais; com o esforço e dedicação, cada um conquistará a sapiência e a luz para o Espírito.

Ocorre que, nessas condições rudimentares, em sua caminhada terrestre, os Espíritos tiveram grandes dificuldades de sobrevivência, o que ocasionou o desenvolvimento da força física, da agressividade e da violência, que foi utilizada para autodefesa. As condutas repetitivas em inúmeras reencarnações também resultaram no desenvolvimento dos instintos de propriedade e de conservação; a força física começou a ser usada contra seu irmão mais fraco.

A ambição e a cobiça levaram a novas conquistas, além da necessidade de sobrevivência. "Isso demonstra que o ser humano ainda não aprendeu a possuir, isto é, ter a posse temporária desses bens para sua vivência, pois, com a morte física, perde-se tudo referente a bens materiais. Pois esses bens que se recebe em forma de 'posse', são como talentos enviados por Deus, para o usufruto e aplicações progressistas que futuramente, serão cobrados os seus resultados" - diz Loricchio.

Eurípedes Kühl também levanta a questão de que os Espíritos esclareceram Kardec dizendo que, antes do primeiro tiro ser disparado, Espíritos desencarnados que se comprazem na discórdia e na destruição, sintonizados com homens déspotas e povos ambiciosos, incensam - por ação mental obsessiva que a sintonia entre eles estabelece - mais e mais conquistas, transbordando paixões. No entanto, segundo ele, "o cidadão convocado pela pátria à guerra e que morre no campo de batalha não leva para o plano espiritual o estigma de assassino pelas eventuais mortes que tenha provocado, principalmente em defesa de si mesmo, além da sua nação e, de forma indireta, da própria família. Esse Espírito será acolhido por equipes espirituais socorristas, que o internarão em colônias para refazimento; ali receberá esclarecimentos da Lei Divina de Justiça, demonstrando-lhe que ao morrer certamente quitou dívida que lhe pesava no passivo de existências pretéritas. Consciente da bondade de Deus, requisitará reencarnar e provavelmente logo será atendido".


De acordo com o escritor Eurípedes Kühl, os governantes que dão origem às guerra são mais responsáveis diante da espiritualidade do que as pessoas que apertam o gatilho


Ainda de acordo com o escritor, os governantes que dão origem às guerras são mais responsáveis diante da espiritualidade do que as pessoas que apertem o gatilho. A Lei de Destruição já explicava que aquele que fomenta a guerra em seu proveito deverá expiar muitas outras existências. Como é fruto do egoísmo e ambição, responde por todas as mortes que tenha causado.

"O líder é sempre mais responsável do que os seus liderados que conscientemente o apóiem", complementa Eurípedes Kühl, "assim estabelecendo formidável energético para a ação intentada - guerra, no caso. Vários exemplos históricos registram grandes líderes arrastando multidões para conquistas, pela força". Ele diz que uma pessoa sozinha não poderá evitar uma guerra entre nações, mas pode e deve decretar a paz em sua vida, no lar, no trabalho e junto aos demais, com isso promovendo a fraternidade pessoal que, somada à de outros que assim procedam, redundará na paz coletiva.

Será que humanidade não progrediu o suficiente para evitar a guerra? Sérgio dos Santos Rodrigues responde essa questão lembrando o capítulo que estuda a Lei do Progresso, o qual diz que o progresso possui duas vertentes: a moral e a intelectual. "O progresso moral decorre do intelectual, que faz o homem compreender a diferença entre o bem e o mal. Enquanto não desenvolve o senso moral, o progresso intelectual é utilizado para a prática do mal, servindo-lhe de instrumento" - diz Sérgio.

Como os Espíritos disseram, o progresso moral é mais demorado e não consegue acompanhar o avanço da inteligência, ainda que tenhamos evoluído muito moralmente nos últimos milênios. "Assim, - diz Sérgio - a predominância do mal, que caracteriza um mundo de provas e de expiações, impele os mais desenvolvidos intelectualmente, e em consequência mais fortes, a buscarem, cada vez mais, ampliar seus poderes em detrimento dos mais fracos".


Uma pessoa não consegue evitar uma guerra entre nações, mas pode e deve decretar a paz em sua vida, no lar, no trabalho e junto aos demais


O fato é que as consequências espirituais de uma guerra permanecem ignoradas pela maioria das pessoas, e os seus responsáveis terão de suportar, no mundo espiritual e em encarnações futuras, os efeitos da lei de ação e reação que rege o universo.

Em resumo, o Espiritismo não vê a guerra como uma situação irreversível, mas como resultado passageiro da humanidade. Mesmo considerando que o progresso moral é lento, um dia ele vai propiciar o banimento das guerras e de todo tipo de violência em nossa sociedade.


Fonte: Revista Espiritismo & Ciência - Coleções (edição 04)

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